Broken Hearts #9


O pequeno manteve-se parado, sentado sobre a cama, em silêncio enquanto observava a porta atentamente, esperava pela senhora que traria a comida para si, havia feito um enorme cachecol de tricô que estava ao canto sobre o móvel, era a única distração que tinha, já que ele havia recusado os próprios pedidos de televisão e até o bichinho. Já havia se curado da febre, o corpo não estava mais tão quente, e era óbvio que ele viria atrás de si para se alimentar novamente e teria de lidar com isso, ou não. Esperou pacientemente até ouvir o barulho da porta e correu para trás do móvel, ao lado da entrada. Esperou que a senhora colocasse a bandeja sobre a cama, indagativa a procurar a si pelo local, e não dera tempo a ela quando correu em direção à porta, mesmo em silêncio e subiu rapidamente as escadas, nem observou a casa ao redor, somente via a enorme porta de vidro no fim do corredor, por onde passaria para fora e sem ver sinal de ninguém ali, abriu a porta num movimento só e sentiu a grama abaixo dos pés quando correu em direção oposta à casa, e já era a segunda vez que fazia aquilo, não tinha esperanças dessa vez de escapar, na verdade, ponderou se aquilo não seria somente um sonho, mas todos os sons pareciam bem reais para ser um sonho, estava realmente correndo novamente, estava realmente tentando fugir de novo, sabia que seria pego.
- Socorro!

Hideki encostou-se à porta, observando-o correr para o mais longe e o mais rápido que conseguiria com suas perninhas humanas nada ágeis. Até mesmo se sentou no banco de madeira maciça no jardim frontal e com um cigarro despreocupadamente posto entre os dedos ficou a observá-lo e tragar da nicotina que nada faria aos pulmões já mortos. Franziu o cenho em desagrado somente ao ouvi-lo gritar.
- Não grite. - Disse, mais para si mesmo do que a ele.

Yori observou o local, fechado demais pelas árvores, nem sabia por onde ir, mas adentrou mesmo assim, estava escuro, na verdade, fim de dia, ainda tinha pouca luz do sol, mesmo assim era suficiente para se sentir perdido e para piorar, estava numa floresta e descalço, ao menos a floresta e o cheiro de grama era do modo como havia sonhado, fresca.
- Socorro!

O maior suspirou e descansou a nuca no encosto, tragou e soltou a fumaça de cigarro para cima, observando-a dispersas no céu já a escurecer. Especialmente naquela parte, costumava ser escuro pelas árvores inúmeras. Quando enfim o cigarro alcançou a bituca, soltou-a no cinzeiro de madeira, num tronco de árvore cortado ao lado do assento e se levantou, aspirou o cheiro do garoto não muito longe e então se pôs atrás dele, tão logo o encontrando meio perdido.
- Vai machucar os pés, e com isso, sinto cada vez mais seu cheiro de sangue.

Yori assustou-se ao ouvi-lo ao lado de si e estremeceu, afastando-se com alguns passos, porém tropeçou no galho no caminho e caiu sentado, unindo as sobrancelhas, era óbvio que tinha alguns cortes nos pés devido aos espinhos de algumas flores e arvores por ali, mas levantou-se mesmo assim e tentou correr para se distanciar dele.
Hideki negativou para si mesmo, notando-o se distanciar sem sucesso. Deixou-o correr e se divertir por algum tempo e quando enfim se fartou da brincadeira, pegou-o de volta e jogou-o sobre o ombro, levando-o consigo para dentro de casa.
- Iie! - Yori gritou ao senti-lo segurar a si rapidamente e debateu-se, acertando-o com os pés agitados e que queriam o chão novamente. - Me solta!
- Se me chutar eu vou cortar suas cordas vocais e deixá-lo mudo.
O menor uniu as sobrancelhas e cessou os chutes, se agarrando num galho para tentar se soltar.

- Não seja teimoso. Não adianta tentar fugir, só perde tudo o que havia conseguido.
- O que? Um quarto frio e sozinho?
- Poderia ter a casa, se não fosse estúpido o bastante para tentar fugir.
- Eu não quero ficar com você!
- Não, é?

- Não!
- E quem já te fez se sentir melhor que isso?
- Ninguém me trancaria num porão e me deixaria sem ninguém! Eu vou ficar louco!
- Agora vai, por me desobedecer. Se houvesse se comportado, ficaria comigo, mas continuou a negar e dar mais atenção ao que não deveria. - Disse o moreno e entrou consigo dentro de casa, arremessando-o ao sofá da sala. - Se tentar fugir outra vez, te acho e mato você. Não de uma vez, mas de uma forma muito mais lenta.
Yori uniu as sobrancelhas ao ouvi-lo, sentindo o sofá macio abaixo de si e pela primeira vez viu a sala e a decoração antiga feita por ele. Hideki soltou-o por lá, e fitou-o por um momento longo e curto o suficiente para mostrar a ele que não brincava.
- Você pode ir comer.

O menor assentiu e manteve-se a observá-lo por alguns momentos antes de se levantar e caminhar em passos lentos até a escada, porém se virou novamente e rapidamente e correu em direção a porta outra vez. Hideki fitou o garoto seguir até as escadas que levavam a seu quarto, e no entanto voltar a correr.
- Ah... Mas que teimosia. - Disse, enquanto o observava sem mesmo sair do lugar. - Acho melhor não fazer isso.

Yori desviou o olhar a ele e logo em direção à porta, queria sair, mas sabia que não podia correr. Uniu as sobrancelhas e abaixou a cabeça, ajoelhando-se no local e permaneceu a observar fora da casa, em silêncio.
- Olhe o lado de fora se quiser. Mas seja inteligente o suficiente pra saber que você pertence a mim.
O menor continuou em silêncio a observar o local e deslizou uma das mãos pelo vidro, nem se importando, ou percebendo que os pés estava machucados pelos galhos e sujavam o chão com gotas de sangue.
Hideki voltou a direção visual ao corpo sinuoso que enrolou as próprias pernas e as cruzou, passeando ondulado em passos suaves pelo piso até o humano que se sentava no chão, observando o exterior. Um turkish angora de pelos mais sedosos que muitos cabelos. Não miou além de um trépido ruído vindo de sua garganta ao fitar o garoto jogado no chão.
Yori desviou o olhar ao pequeno bichinho que veio caminhando pelo chão até si e observou-o por um pequeno tempo até abrir um sorrisinho e deslizou uma das mãos nos pelos macios do gatinho.
- Vá cuidar de seus pés se não quiser uma mordida bem abaixo dele.
O loirinho desviou o olhar aos pés machucados e uniu as sobrancelhas, seria um problema retirar os espinhos. Sentiu o gatinho roçar o corpinho em si e novamente deslizou a mão nos pelos dele, acariciando-o, sentindo sua cabecinha tão pequena em meio aquele monte de pelos.
- Qual é o nome dele?

- Haiiro.
Hideki caminhou até o garoto, infeliz mas incomodado o suficiente para segurar seu tornozelo e encarar os machucados em seus pés. 
Yori sorriu ao ouvir o nome do bichinho e abraçou-o sutilmente ao senti-lo se entrelaçar em si, porém soltou-o logo ao senti-lo segurar o próprio pé e afastou-se rapidamente, encolhendo-se.
- Pare com isso, porra.
Disse o maior, emputecido o suficiente e puxou seu pé que segurou com firmeza suficiente para quebra-lo se puxasse. E com a mão livre, limpou sua pele e levou-o até a boca, sugando os espinhos.

O loiro uniu as sobrancelhas mais uma vez ao ouvi-lo e manteve-se parado, mesmo amedrontado pelo modo como ele observava a própria pele, os olhos acesos como quando ia beber a si. Manteve-se inerte, porém gemeu dolorido ao senti-lo sugar o local, sentindo os espinhos saírem da pele e abrirem ainda mais os machucados que até então não doíam.
- Para... Está doendo.
- Dói, é? Eu devia fazer doer bem mais por ter saído correndo de novo.
Yori permaneceu silencioso a observá-lo, vendo as pernas gotas de sangue que escorriam pela pele, e o maior aproximou-se, lambendo uma pequena gota que não estava suja de terra.
- Obrigado pelo gato.
- Você não merece, mas já o havia trazido.
O pequeno uniu as sobrancelhas.
- Vou cuidar bem dele...
- Espero que sim.
Disse o moreno a acariciar a pequena cabeça do filhote que deu um miado fraco.
- Vá comer, leve-o, depois desço para saber como está, vou pedir que Ophelia faça seus curativos.
O menor arqueou uma das sobrancelhas, estranhando as reações dele.
- Não está zangado? Quer dizer... Não vai me fazer dormir com as roupas sujas ou no chão?
- Hum, você me pegou num dia bom. Sorte a sua.
O arrepio percorreu o corpo do garoto, porém assentiu, deixando por assim mesmo e viu o mais velho se levantar, seguindo para fora da sala, não entendeu e na verdade, ficou um pouco curioso sobre o porque era um dia bom, o que ele poderia ter feito? Parecia bem, alimentado, será que havia trocado a si? Uniu as sobrancelhas ao pensar nisso, deveria se sentir feliz por ter-se livre dele, mas algo no peito era dolorido, e não sabia o nome daquilo. Abraçou o gatinho e pegou-o no colo, observou a janela e porta aberta, mas achou que seria melhor descer as escadas de volta ao quarto.

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1 comentários:

  1. "já fazem 84 anos" mas eu to aqui para exaltar essa fanfic tão MARAVILHOSA! só tenho a agradecer-te por esse cap tão fofo! *^*

    Hum...não sei não, mas o que o Yori/cu doce, está sentindo um ciuminho ai não? E Hide-chan? Hum...essa felicidade ai pode ser de ter visto o Yori feliz pelo gatinho ou outra coisa...hum..vou formar umas teorias aqui *-*

    OBRIGADA MESMO PELO CAP KAYA!!! Queria ter lido antes, mas a droga da minha faculdade não me permitiu -.-"

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