Masashi e Katsuragi #8


Katsuragi deixou a cama logo cedo, cedo em um sentido diferente, mas foi antes de anoitecer. O observou ali, a pele nua dos ombros, era tão lindo que não queria deixá-lo, mas devia aquilo à ele de alguma forma. Deslizou a mão por seus cabelos, acariciando-o e notou a pele arrepiada de seu braço, onde cobriu com o cobertor, já que era obvio que lá fora fazia frio, embora não sentisse muito bem. Beijou-o em seu rosto tão bonito e deixou o quarto após vestir uma roupa intima e um quimono limpo. Ajeitou os cabelos, presos atrás e solto na frente e subiu as escadas, encarando os olhares dos garotos, curiosos devido a falta de treino nos últimos dias. Chamou um dos garotos antigos e incumbiu atarefa a ele de treinar os mais novos, já que andava meio sem tempo para fazê-lo e por último seguiu para o último quarto, onde o garotinho se trancava, e sabia que seria  primeiro lugar que ele iria procurar quando acordasse. Chamou o pequeno, retirando-o do quarto e indicou que a serviçal se livrasse dos vestígios dele ali, pegou-o no colo e seguiu para fora do bordel.

Masashi levantou-se, já era noite, já havia se acostumado com o horário. O vampiro não estava na cama, provavelmente treinava os cortesões ou se alimentava novamente. Vestiu seu quimono, antes tomou banho em seu quarto deliberadamente e deixou o quarto. Sentia fome, e sentia o cheiro vindo da cozinha, exalava o café da noite. Mas antes observou o quarto vip dos clientes e notou a movimentação. No quarto constou a falta do garoto que noite anterior havia deixado. Estranhou e franziu suavemente o cenho, notando a mulher a formular a limpeza do cômodo.
- Aonde está o garoto que estava aqui?
Indagou, contido. Era um funcionário, não podia soar arrogante, não era nada alí.

Katsuragi desviou o olhar ao garoto, arqueando uma das sobrancelhas ao notar que era um dos novos garotos que havia trazido, parou a limpeza e seguiu até ele na porta.
- E eu vou saber? O Katsuragi só me mandou limpar a bagunça. Difícil vai ser tirar as marcas de sangue desse travesseiro, isso sim.

- Sangue..? Por que tem sangue? - Masashi retrucou a rabugenta do serviço.
- Quando entrei o garoto não estava mais aqui, não sei porque. Ora.
O menor cerrou os dentes e suspirou.
- Por que a grosseria?

- Garoto, eu acordei às cinco da manhã para limpar esse lugar, eu durmo três horas por dia, acha que eu não gostaria de ser mais gentil? Agora vá, me deixe trabalhar.
- Uh, pela grosseria merece estar aqui.
Masashi retrucou e deixou o quarto, procurando pelo menino onde costumava trabalhar, ou mesmo o homem com que havia passado a noite, o dono do bordel.
- Mãe!

- Ele saiu, garoto.
Disse o mais velho, que ensinava os garotos enquanto Katsuragi estava ausente, os cabelos compridos e ruivos, mais soltos do que presos no topo da cabeça.
- Já deve estar chegando, espere lá na frente.

- Ele foi com o garotinho?
Masashi indagou ao ruivo e fitou o rapaz. Mas estava ocupado, portanto fora até o lado de fora, procurando o cortesão, esperando-o voltar.

Katsuragi voltou pouco tempo depois, não queria ter demorado tanto tempo, mas teve que parar com o garoto, já que ele queria, havia comprado roupas novas para ele, que vestia um quimono de inverno, mas mesmo assim vinha caminhando com uma raspadinha de morango nas mãos, e seguira o garoto ao comprar uma para si, de limão. Segurava a mãozinha dele com uma das mãos e na outra as sacolas, em seu pescocinho havia feito um curativo, já que o local ainda escorria sangue por ter sido perfurado tantas vezes. Sorriu a ele ao vê-lo agradecer a si e acariciou seus cabelos negros, porém cessou o passo em frente ao bordel, ao ver o outro sentado ali.
Masashi levantou-se logo ao vê-lo, notou todo o detalhe em torno. A sacola em sua mão, o docinho gelado do outro. Observou-o pela primeira vez como realmente uma criança e o outro, quase parecia seu pai. Fitou-o, sem dizer nada, enquanto se aproximavam.
- O que foi?
- ... Nada. Você me assustou.
O maior abaixou-se em frente ao garoto e indicou a porta.
- Vá para o quarto, vou pedir que levem uma sopa pra você.
- Sim senhor!
Ao levantar-se novamente, fitou o menor, num pequeno sorriso de canto.
- Ele pediu roupas novas por isso eu demorei. Nada demais.
O vampiro passou em frente a ele, seguindo para dentro em direção a cozinha onde deixou os pacotes, fuçando dentro deles. Masashi o seguiu, confuso, e tinha um pequeno sorriso admirado nos lábios, sutil, mas existia.
- ... Vai cozinhar?
- Uhum.

- Hum... O que sabe cozinhar?
- Panquecas. Só.
- Nunca comi.
- Não é comum no Japão, vem, eu vou fazer.
Katsuragi segurou a mão dele, guiando-o à cozinha.

- Como aprendeu?
- No mesmo lugar onde eu arrumei o colchão. - Disse a pegar os ingredientes.
- Saiu do país?
- Uhum.
- Hum... Para qual?
- França.
O maior sorriu a ele, misturando os ingredientes na mão mesmo e logo fritou uma das massas, deixando-a sobre um dos pratos e indicou a ele que experimentasse.

- O que foi fazer por lá? - Masashi indagou e aproximou-se, pegou com a mão um pedacinho da massa, sentindo seu sabor agradável. - Hum... Leve
- Uhum. Fui só conhecer, afinal, eu era imortal. Mas tem muitas guerras, o Japão é mais tranquilo.
- Sozinho? - O menor pegou outro pedacinho. - Gostoso.
- Quer recheio do que? Não tinha quem ir comifo.
- Recheio?
- Uhum, pra colocar dentro dela.
- Ah, não sei...
- Que tal carne?
- Parece gostoso.
Katsuragi sorriu e assentiu, desfiando os pedacinhos de carne a pegar a panela onde faria o recheio. Temperou a carne, mexendo sempre e por fim colocou entre as massas, dobrando as panquecas.
- Hum, agora coma.

Masashi observou-o enquanto cozinhava, sequer parecia o mesmo cujo os mais antigos cortesões ali diziam ser. Ainda que por suas palavras na noite anterior houvesse notado seu lado não tão gentil. Suspirou e observou o lanche da noite, fatiou e com cuidado levou para a boca, experimentando a comida, que era novidade.
- Hum...

O maior sorriu a ele, observando-o enquanto comia e até assim ele era agradável e lindo.
- Gostou?

- Gostei, é saboroso.
O menor disse e fatiou outro pedacinho e levou fronte a seus lábios, oferecendo-o.  Katsuragi a
ceitou e sorriu a ele em seguida, apreciando o sabor da carne temperada;*
- Você ainda gosta de alimento humano?
- Uhum, não perdi o gosto.
Masashi voltou a comer da nova refeição e servi-lo.
- Como se sentiu com o garoto?

- Hum, humano.
- Foi divertido?
O maior assentiu e comeu mais um pedaço das panquecas.
- Viu como ele não precisava morrer?
Masashi disse e descansou os hashis sobre o prato, levando a mão sobre a ele e acariciou-a por um instante, breve. Katsuragi s
orriu ao sentir a carícia sobre a mão e pigarreou em seguida.
- Termine de comer, hum. Está fraco.

O menor assentiu e voltou a comer, até que terminasse a refeição feita por ele, forte e saborosa graças a carne. O maior sorriu e deslizou a mão pelos cabelos dele.
- Me conte sua história, Masashi. Como chegou aqui?
Eu quis vir. - O menor retrucou o moreno e limpou a boca.
- Mas e sua família?
- Costumávamos ter dinheiro, mas pela falta de sabedoria do meu pai houve a falência. Uma decadência que ocorreu no período de três meses, até que nos restaram somente visitas de credores. Um dia voltei da escola, e foi a partir daí que não os vi novamente. Bom, não sei o que aconteceu, se fugiram, se foram mortos, vivi com o que restou até algum tempo, mas hoje estou aqui.
Katsuragi uniu as sobrancelhas ao ouvi-lo e assentiu, tirando do quimono a pequena caixinha quadrada que entregou a ele, contendo alguns chocolates.
- Está seguro aqui.

- Eu sei. Tem um velho vampiro que pode degolar facilmente alguém por aqui. - O menor riu, baixinho e curiou a caixa entregue, observando os chocolates. - Não precisa ter pena.
- Não tenho pena, pare de achar que tenho pena de você. Aqueles garotos lá fora, todos eles tem uma história semelhante ou pior do que a sua, está me vendo ter pena deles? Comprei pra você, porque gostei de você, só isso.
- Mas franziu as sobrancelhas.
- Ora, gostaria que eu sorrisse após ouvir uma história triste? Aí sim eu seria cruel.
- E você é cruel.
Masashi disse, mas se levantou e o abraçou antes que levasse o comentário a sério demais. Katsuragi s
orriu a ele e retribuiu o abraço, beijando-o no pescoço, onde o cabelo não alcançava e ouviu os passinhos que adentraram o local correndo.
- Masashi!O menor deu um sobressalto ao ouvir o ruído inesperado.
- Oi!

Katsuragi sorriu a ele e ergueu a mãozinha a expor a flor.
- Katsu-sama disse que você me salvou. Pra você. 

O menor arqueou mutuamente ambas as sobrancelhas e aceitou o presente, observando a flor.
- Obrigado, Kai...to?

- Eu vou até ganhar um quartinho e tudo!
- Ah é? Parece que ganhou um pai então.
Katsuragi sorriu.
- Agora vai arrumar suas roupas no seu quarto, deixa o papai e a mamãe conversarem.

Masashi franziu o cenho novamente, estranhando os termos desta vez.
- Ah? Espero que não esteja me comparando a uma mulher.

- Ah não, jamais.
O maior piscou ao pequeno que s
orriu e abraçou a cintura do moreno que pegara a flor, correndo para fora da cozinha em seguida. Masashi observou-o partir logo após seu abraço. Parecia outra criança. Observou a flor que ganhou e levou-a em seu cabelo. Katsuragi sorriu a ele novamente e negativou.
- Ai ai, o que eu vou fazer com você?

- Eh?
- Ah, não achou que fosse sair dessa sem eu te castigar, achou? - Mordeu o lábio inferior. -
- Dessa o que?
- Colocar o meu doador de sangue num quarto pra clientes VIP, gritar com um superior, me chamar de cruel.
- Mas eu te dei prazer, já paguei o que devia.
- Hum, você também se divertiu.
- Se não tivesse me divertido eu não divertiria você.
- Hum, ta bem. - Sorriu. - Mas ainda vou te castigar.
- Com o que?
- Vou pensar.
- Hum, vou esperar.
- Espere. Você vai dormir comigo todos os dias, está decidido.
- Hum... Por quê? É esse o castigo?
- Hey, então quer dormir naquelas esteiras duras?
- Estou perguntando porque. Parece até, que estou sendo seu amante.
- E não quer ser? Ao menos vai dormir na cama mais confortável da casa.
- Só por isso acha que eu faria, hum?
- Então não seja.
Masashi observou-o sem retrucar. Assentiu. 
- Ingrato.
- Se está tentando alguma coisa não sabe fazer isso. Mas não te culpo, é até fofo.
Katsuragi estreitou os olhos.
- Fofo?
- Fofo.- Eu não sou fofo.- Não por querer. Nunca quis alguém?
O maior desviou o olhar e negativou.
- Devia ir treinar um pouco.

- Já amou alguém?
- Hum, talvez um gato que eu tinha quando criança.
- Fofo. - Riu.
Katsuragi estreitou os olhos.
- Ora.
- Acho melhor você pensar num meio de arranjar comida pra mim se não quiser que eu mate ninguém.- Você pode caçar pessoas que não sejam crianças.- Não vai ter pena delas?- Não precisará matar, prove sabores diferentes.- Hum... Nunca provei um tão doce quanto o seu.
- Gosta de doces?- Uhum. Muito.- Se você não me debilitar, eu deixo tomar um pouco.- Não fiz isso ontem que estava faminto, então vão vou.
- Mas estou debilitado.
- Só está com um pouquinho de febre.
- Debilitado. - O menor resmungou. - Acho que preciso ir pra aula.
Katsuragi uniu as sobrancelhas.
- Eu vou dá-la hoje.

- De que?
- Vou ensinar a tocar um instrumento.
- Qual?
- Hum, quer aprender a tocar Shamisen?
- Já sei tocá-lo. - Sorriu ao moreno. - Me ensine outro.
- S-Sabe...?
- Sim. Tive uma boa vida por algum tempo, como falei. Embora provavelmente eu esteja enferrujado.
- Hum, sabe tocar flauta?
- Iie.
- Então, vou te ensinar
- Me ensine, Sensei.
- Não me chame de sensei... Me excita.
- Fetista?
- Um pouquinho. Não respire também.
- Não sou um vampiro, irei morrer.
O maior riu.
- É brincadeira.

- Preciso ir a casa de banho,
- Por quê?
- Não tomei banho, e fizemos sexo ontem.
- Hum, vou te dar banho então.
- Vai se banhar comigo?
- Uhum.
- Hum, vai se despir?
- Claro ora.
- É que nunca realmente ficou comigo no banho.
- O que...?
- Nunca tirou suas roupas.
- Ah, bem... Eu não gosto muito do meu corpo.
- Por quê?
Katsuragi abriu um pequeno sorriso.
- O acho feio. Não conte pra ninguém.

- Feio por que?
- Porque eu acho.
- Por que acha ele feio?
- Não gosto dele somente. É velho.
- Me deixe ver no banho.
- Hum. - Assentiu.
- Vamos, mamãe. - Masashi chamou, e deu-lhe um sorrisinho.
- Hum.
Katsuragi sorriu e seguiu atrás dele até a casa de banho, fazendo um sinal com a cabeça ao rapaz que dava as aulas ao passar por ali.

Masashi observou o outro professor e logo seguiu rumo até a casa de banho onde ao entrar, despiu-se logo da roupa dele, que havia colocado pouco antes.
- Vamos, deixa eu ver.

Katsuragi desviou o olhar aos lados, pouco desconfortável e abriu o quimono, puxando o obi que caiu no chão, deslizando o quimono pelos ombros e logo deixou-o cair junto do obi e de fato, não havia nada errado consigo, nem uma marca, ou cicatriz, só não costumava mostrar o corpo a ninguém.
O menor arqueou uma das sobrancelhas, e encarou toda sua figura sem qualquer defeito que pudesse lhe causar um desagrado ou a si.
- Pff...
Resmungou pelos lábios e próximo, encarou sua nudez por onde deu uma volta, fitando-o. Era evidente que era um homem maduro, mas muito bem formado, desenhado.
- Não vejo o porquê.

- Bem... Estava ficando velho quando fui transformado...
- Talvez não fosse tão bonito se não fosse mais velho.
- Gosta de homens maduros?
- De você, sim.
Katsuragi sorriu.
- Mas ia preferir que eu fosse mais jovem?

- Não, assim é ideal.
- Hum... - Masashi puxou-o pela cintura e lhe selou os lábios.
- Você gosta de homens mais jovens?
- Gosto de você.
- Hum, não vale essa resposta.
O maior riu baixinho.
- Sua idade é perfeita. Quantos anos você tem mesmo?

- Não sabe e diz que é perfeita?
- Vejo seu corpo, pra mim assim está perfeito.
- Tenho dezenove. Você tem minha idade de diferença para a sua.
- Meu deus...
- Quando eu nasci você tinha a idade que eu tenho agora que o conheci. - Sorriu. - Mas isso é excitante, sabe?
- Na verdade... Quando nasceu eu tinha 79 anos. Mas isso é detalhe. - Katsuragi segurou-o pela cintura e puxou-o contra si. - Isso é muito excitante.
- Falo da sua idade humana.
- Bem, eu tenho idade para ser o seu pai, precocemente, mas tenho.
- Mas quis ser meu amante.
Katsuragi mordeu o lábio inferior.
- E não desisto dessa ideia. Você é uma delicia, o homem mais lindo que eu já vi na vida.

- Você é exagerado...
- Sou sincero.
- Já deve ter conhecido muito mais atraentes.

- Cem anos, eu vivi cem anos para encontrar o ser humano mais lindo do mundo. Os mortais não tem chance. - Katsuragi abraçou-o e selou-lhe os lábios.

Compartilhe:

DEIXE UM COMENTÁRIO

    Blogger Comment

0 comentários:

Postar um comentário