Kazuma e Asahi #57


Após tanto tempo, Kazuma havia enfim ganhado um breve descanso das atividades militares. Estavam no outono quando pisou novamente naquelas terras, e embora algumas partes dela ainda estivessem afetadas pelo ano anterior, as folhas poderiam ser gentis e dar alguma beleza para o lugar. O carro antigo havia deixado o moreno em frente ao local, e ver aquela construção dava a ele certo ar nostálgico. Não sabia o que havia acontecido até ali, não sabia os caminhos que haviam seguido, não sabia de nada. A igreja estava em boa forma, estava aberta como a havia visto somente uma vez, no entanto ao chegar lá, outro homem vestia a batina como responsável pela igreja.

- Padre. 
O general cumprimentou o homem, que parecia recém adicionado ao posto, era jovem e por sua chegada recente, parecia meio perdido ao que acontecia lá.
- Posso ajudá-lo, senhor?
- Me desculpe, eu vim com alguns homens, preciso saber se sabe alguma coisa sobre um padre chamado Asahi.
O homem fez um momento de silêncio, puxou pela memória, mas ele nada sabia dos tempos de guerra, ou de ninguém mais que houvesse estado naquela igreja antes.
- Sinto muito senhor, nunca ouvi falar nesse nome.
- ... Rapaz isso é muito importante, de verdade, você não se lembra de nada? É um rapaz loirinho, não é muito alto, tem olhos castanhos.
- Não senhor.
- Ninguém conhece? Ninguém pode me dar essa informação?!
- Senhor... Por favor, não se exalte, quando cheguei aqui já não havia mais ninguém na igreja, sinto muito.
Kazuma estreitou os olhos, irritado e os punhos cerrados quase atingiram a mesa antiga que havia no centro da igreja, não o fez, por uma mínima noção de que não estava num lugar apropriado para aquilo.
- Obrigado.
Ao sair, o moreno fitou todo o local, as barracas com a venda de alimentos, os comerciantes que passavam em passos tranquilos, era bem diferente da guerra, realmente diferente.
- Asahi...
O nome fora quase um sussurro, sabia que não iria encontrá-lo ainda que passasse dias naquela cidade atrás dele, na verdade, pensou por um momento que o garoto pudesse até mesmo ter morrido, sendo deixado assim, sem poder falar com ele, não sabia como ele havia ficado, e não sabia se perdoaria a si mesmo ao descobrir isso. Por um momento permaneceu parado em frente a igreja até ver um dos próprios guardas ensanguentado.
- O que aconteceu?
- Nada senhor, foi um acidente.
- Um acidente que ele ficasse todo machucado assim?
Os rapazes se olharam.
- Me envolvi numa briga, senhor, desculpe.
- Vocês não vieram aqui pra fazer essas porcarias, vamos, vamos voltar.
- Para onde senhor?
- Para Kyoto, não encontrei o que eu procurava aqui, e acho que nunca vou encontrar.


O rio corria tranquilo a tocar a beirada, pequenas pétalas de flores caíam sobre a água, que tocava o verde da grama, era outono, mas todos já pensavam no inverno que certamente seria difícil de aguentar naquele ano, principalmente para o loiro. O céu azul tocava o horizonte, pequenas sombras de casas de períodos antigos ainda se faziam visíveis, nos pedaços que não foram destruídos pela guerra. Asahi fitava a água, silencioso, e passava em sua cabeça todo aquele acontecido conturbado, e sua chance falha de encontrar Kazuma. 
- Asahi-san! Finalmente encontrei você! Você quase me matou do coração! O que aconteceu?
Asahi permaneceu em silêncio por um momento, até sentir as lágrimas molhando os olhos.
- Eles estavam na cidade, eles... Eu achei que o Kazuma estava com eles...
- Os soldados? ... Disseram que estão fazendo uma vistoria na cidade.
- Eu achei que ele tinha vindo me buscar, eu sou tão burro...
Akemi se ajoelhou ao lado dele e devagar abraçou o corpo do garoto como se fosse um de seus filhos, acariciando seus cabelos loiros. Pela primeira vez, Asahi permitiu o toque e repousou a face sobre o ombro dela, não conseguira conter as lágrimas.
- Ele... Ele deve pensar em você ainda, Asahi... Ele vai vir te buscar, você vai ver, ele não te deixaria assim.
- Ele já me deixou, Akemi... Eu nunca mais vou vê-lo... Me chutou como alguém que só estava disponível porque era fácil.
- ... Asahi-san, o que aquele homem fez com você?
Ela tentou olhar o rosto do loiro, mas ele não conseguia mais falar, era tomado pelos soluços conforme chorava, e tentava tirar toda a dor que sentia no peito daquele modo. Silenciosa, ela o abraçou contra o peito e não perguntou nada mais. Sobre os cabelos, podia sentir a brisa rigorosa do outono levando as folhas e flores das árvores, o outono era como Asahi, suas folhas caíam lentamente, até que não restasse mais nada dele para se lembrar. 

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