Yasuhiro e Yoruichi #7


Yoruichi suspirou, o vento soprava sobre os cabelos, e naquele dia havia seguido o cheiro dele, embora fosse meio difícil. Estava frio, as pessoas corriam em direção a suas casas para se esconder do inverno rigoroso que logo viria. Cessou os passos, quando por fim, estava em frente a casa dele e aspirou os aromas, complicados de se diferenciar, mas por fim reconheceu, e fora quando pulou em direção a sua janela, como ele fazia consigo, e não pôde deixar de comparar a si com uma raposa curiosa. Sorriu a ele, de costas para si enquanto aparentemente arrumava algo em sua penteadeira e aproximou-se com alguns passos, ainda silencioso.

Embora fosse um pouco desanimador tirar seu ânimo com a brincadeira, era inegável o fato de era percebido dentro do cômodo. Por mais distraído que estivesse com uma caixa de adereços sobre a penteadeira  no quarto, seu cheiro era novo por lá, mas não para os sentidos. Yasuhiro permaneceu quieto no entanto, esperando seus atos, fingindo-se desentendido.
O moreno sabia que ele iria perceber a si, e aquela hora, já devia ter interrompido os passos, porém na aproximação que deu, abaixou-se atrás das costas dele, e os lábios, suavemente tocaram o pescoço do outro com um beijo sutil.
- Boa noite.
O loiro percebera a silhueta rapidamente aparente do lado direito, cabelos escuros e seus lábios no pescoço, um cumprimento incomum, e não entendeu bem o motivo de sua visita. Mas mesmo com o toque, fingiu não percebê-lo. Yoruichi suspirou e desviou o olhar, levantando-se.
- Bem, vou embora.

- Hum, o pavio está curto hoje? - O maior disse e fechou o pequeno baú. - A que se deve esse beijinho?
- Meu pavio está sempre curto. - O moreno falou a apoiar-se na janela. - Vim te ver.
- Por quê? - Indagou e virou-se, fitando o rapaz já de volta à janela.
- Porque meu pavio é curto ou porque vim te ver?
- Porque veio me ver. Isso é incomum, geralmente só espera que eu vá até sua casa.
- Porque hoje você não foi ver o humano, e fiquei curioso sobre o porquê. Já é o terceiro dia seguido.
- Hum, e aí, quer que eu vá?
- Não, quero que me diga porque não foi.
- Você é muito enxerido, meu primo.
- Vocês brigaram é? - Sorriu.
- Não temos motivos pra brigar. - Sorriu igual a ele.
- Então?
- Você não tem vergonha, hum? - Yasuhiro retrucou, achando graça. - Você entra aqui, assumindo que me espionou por três dias seguidos, e ainda assumindo que quer saber porque não fui até lá. Oh, seria amor, meu primo?
- Ah, não seja tolo. E você sabe que eu espiono você há anos, não é nenhum segredo. Talvez você me ame, já que não está indo visitar aquele pedaço de carne.
- O amando ou não, amor não me impediria de ir vê-lo se eu quisesse. Mas, parece que causo boatos aos pescadores, lavradores, não é? A mim não me importa, só não quero tirar a oportunidade dele de ter uma família, já que alguém causa boatos como se eu estivesse rompendo a pureza do menino.
Yoruichi sorriu meio de canto, mas estava visivelmente irritado.
- Não sou eu quem criei os boatos se é isso que quer saber, eu tentei evitá-los por anos, porque eu queria imaginar que meu futuro marido não era um cafajeste.
- Não estou acusando você. Mas já deve saber que seu futuro marido não é nenhum cafajeste, só não entendo porque está a se preocupar mais do que eu, sobre ir ou não ir ver o garoto.
- Queria saber o porque, somente curiosidade. - O loiro falou e claro, que queria saber se ele havia parado de vê-lo por causa de si, mas era óbvio que não. - Bem... Já posso ir.
Ao se levantar, Yasuhiro seguiu ao moreno, tomando-o sem delongas por seu fino pulso. O puxou num solavanco único e que não precisava realmente impor alguma força. 
- Você chega perto de ser sincero e cara-de-pau ao mesmo tempo. 
Disse e levou-o pelo quarto após com a mão desocupada, fechar a própria janela, onde antes ele havia entrado, guiando-o para a própria cama onde o jogou e o sobrepôs. 
- Não se preocupe, não vou tirar sua castidade, meu primo.
Yoruichi assustou-se com seus movimentos, quase rápidos demais e ouviu somente o barulho da janela que se fechou, e num baque, caiu sobre sua cama, fitando-o sobre si, os olhos arregalados e boquiaberto, sem entender.
- Então por que me joga na sua cama?
- Porque você me atormenta, então se quer fazer isso, me dê motivos para deixa-lo fazer isso. 
Disse o loiro e abaixou-se, deitando o corpo sobre o seu. E embora fosse bem deliberado sobre o que fez, era de fato a primeira vez que sentia um corpo daquela forma. O moreno uniu as sobrancelhas e negativou, sentindo o corpo dele, frio, sobre a própria pele igualmente fria e sentiu toda a pele se arrepiar, mesmo que tivesse as roupas sobre o corpo, podia sentir os quadris dele contra os próprios , e sabia que aquilo não era bom.
- I-iie, me solte!
- Não precisa ser contido, você é meu noivo. 
Yasuhiro levou a mão a seu rosto, segurando-o na mandíbula, erguera seu queixo e deitou os lábios contra os seus, tapando-os, o beijou. Yoruichi uniu as sobrancelhas, e de fato, não devia ter um encontro daquele com ele, era noivo, justamente, ainda não eram casados, mas os lábios dele tinham gosto doce, tão atrativo, e a mão em seu ombro, que o apertava, tentando se livrar dele, por fim relaxou e retribuiu seu beijo, devagar.
O loiro sentiu seu toque inconsistente, antes firme, agora criava leveza e com isso é claro, segurava-o ainda pelo rosto, empurrando a língua para dentro de sua boca. Talvez houvesse acordado um pouco impaciente, e foi por isso que o beijo não durou tão suave, não era grosseiro, mas era firme.
O moreno manteve os olhos fechados conforme sentia-o beijar a si, e vez ou outa, sentia suas presas roçarem na própria língua, cortando pelos locais, que expeliam sangue em boa quantidade, e não sabia se era proposital, ou se assim como a si, ele era inexperiente beijando alguém.
Yasuhiro podia sentir breves toque de seu sangue na boca, não tinha propósito em fazê-lo, entendia como se aquilo fosse causado por ele mesmo, embora não entendesse o que pretendia, talvez ter uma mostra dos próprios sentimentos? Bem, não deu importância, era uma dose insignificante, mas suficiente para dar um sabor no beijo.
O menor uniu as sobrancelhas novamente com aqueles pequenos cortes sobre a língua e teve de se afastar um pequeno tempo, ao sentir uma gota deslizar pelos lábios, escorrendo até o queixo, e fora assim que cessou o beijo. O estalo dos lábios denunciou o fim do beijo e o maior afastou-se do moreno e fitar mesmo a fina gota de sangue que escapou de seus lábios.
- Você é de papel?
O menor desviou o olhar a ele.
- Eu não sei beijar, e sua língua parece uma faca.

Yasuhiro abaixou-se, limpando seu queixo com a ponta da língua. O menor uniu as sobrancelhas, apertando-o novamente no ombro.
- ... C-Chega.

O maior assentiu a ele, talvez por hora, já houvesse o pressionado o suficiente. Antes de solta-lo no entanto, deslizou o dígito de sua mandíbula ao queixo, segurou e lambiscou seu lábio, logo após uma roçada corporal junto a seu corpo na cama, se levantou e o deixou.
Yoruichi sentiu o toque nos lábios, assim como no corpo, e aqueles arrepios eram incômodos, doloridos, abaixo da roupa íntima, e não poderia ficar com ele, então era mesmo melhor se afastar.
- ...
- Pronto, talvez deixe de me importunar. Ou quer mais?
- Acha que vou parar de te importunar porque me agarrou a força e me beijou?
- Sei que isso é amor reprimido, meu primo.
- Pode não parar, mas me recompensa.
- Hum, então você quer me beijar?
- Não, te beijei por obrigação.
- Hum... Então eu sou atraente pra você.
- Você é bonito, eu já disse isso antes.
Yasuhiro sorriu.
- Está ansioso para nossa noite de nupcias?

- Não tenho pensado sobre isso.
O loiro disse, e de fato não havia pensado, não que não quisesse tê-lo, mas acordos estavam a acontecer suficientes para tornar um turbilhão sem tempo de pensamentos além das coisas que iriam mudar.
- Por quê? Quer que eu o deseje sexualmente, Yoruichi?

- Hum, é só uma pergunta. Como as outras que fiz.
- Bom, algo te interessa, afinal não perguntaria a um estranho sem interesse.
- Você não é um estranho.
- Justamente, porque tem algum interesse.
Yoruichi sorriu meio de canto.
- Só acho curioso o fato de você não conseguir ficar perto de mim.

- Não consigo ficar perto de você, é?
- Não sem me jogar na cama.
- Consigo ficar perto de você, é você quem corre sempre "Posso ir para o meu quarto?" "Posso me retirar?" Você tem uma percepção distorcida da situação, além de que, é a primeira vez que o coloco na cama.
- Hum, não se ofenda, não me acho areia demais. Aliás, me acho areia de menos.
- Não estou ofendido, só estou dizendo que você não percebe o que faz, já que sempre fugiu e agora diz que sou eu quem não consegue estar perto de você sem interesses.
- E o que isso tem a ver? Se fujo é porque não posso manter os meus interesses antes do casamento.
- Isso o que? - O loiro indagou, imaginava que em algum momento lhe havia quebrado o raciocínio. - Não estou acusando você de nada, apenas corrigindo o fato de que mencionou que eu não sou capaz de ficar ao seu lado, sendo que é você quem foge.
- Enfim... Esqueça.
- Venha, vou lhe dar algo gostoso para comer.
- O que?
- Nada que esteja no meu corpo. - Disse o maior e por fim sorriu a ele, seguindo até a porta que correu a lhe ceder passagem. - Vem, algum doce.
O moreno estreitou os olhos.
- Hum, doce está bom. - Murmurou e seguiu com ele para fora.

- Que tipo de doces você gosta?
- Os macios.
- Bem doces ou mais suaves?
- Mais suaves.
- Tudo bem. Quer um bolo ou algo mais cremoso?
- Hum, pode ser o bolo.
- Tem sobremesa com massa e um creme de frutas, é bem gostoso.
Disse o loiro, levando-o consigo e até lhe cedeu o braço para caminhar.

- Hum, parece bom. - Yoruichi sorriu e segurou o braço dele. - Não vão te dar bronca se virem nós dois juntos?
- Não, poderiam dar bronca em você.
- Ah...
- Mas minha mãe não dirá nada, ele não é tão quadrado sobre isso.
O maior disse a ele enquanto seguia caminho até a sala de reunião do chá e observou o serviçal que se prontificou a atender a chegada por lá, assim como cumprimentou o rapaz consigo.
 - Traga a sobremesa que fizeram essa tarde. - Disse a ele e viu-o seguir em busca de atender o pedido. - Me diga coisas que preciso saber antes de casar com você.

Yoruichi sorriu ao serviçal, meio de canto.
- Podemos nos sentar... Pra conversar?

- Sim, claro. Prefere ir lá fora?
- Hum, está meio frio mesmo pra mim, talvez a sala?
- Então ficamos por aqui. - Dito, Yasuhiro indicou a ele onde pudesse se sentar.
O menor assentiu e sentou-se no sofá ali existente, sorrindo a ele meio de canto.
- Não há nada muito especial sobre mim. Hum, eu ronco. Mentira.

- É claro que é, quem teria dormido com você para revelar esse segredo? Serei o primeiro a descobrir. - Disse o maior a ele e se acomodou, sentando-se defronte a ele.
O moreno sorriu, meio de canto.
- Você tem algo a dizer?

- Eu tenho alguns ataques de raiva. Costumo ser dócil, mas vez outra tenho surtos de alguns minutos. Minha mãe já deve ter avisado isso a sua.
- Hum, vai me agredir?
- Não sei, talvez.
- Hum...
Yasuhiro sorriu a ele, mostrando os dentes, e claro, estava sendo estúpido, brincando com ele. Com a licença do rapaz, deixou-o servir o doce, assim como bebidas quentes para acompanha-lo. Yoruichi sorriu ao garoto num pequeno agradecimento e pegou o próprio prato e o talher, estranho, quase tudo que comiam era importado. Como ele, o loiro voltou a atenção ao doce, dosou no talher e levou um pequeno pedaço à boca, sentindo o gosto suave. Mas fitava a sua expressão, notando se gostava ou não. O moreno levou um pequeno pedaço do bolo aos lábios e sorriu.
- Oishi.

- Bom, hum? - Yasuhiro concordou e voltou a comer. - Mas me diz o que mais devo saber.- Bem, eu sou virgem, já deve saber, nasci no dia oito de fevereiro, e... Gosto mais de doces do que de salgados. Sou ranzinza, insuportável, chato.
- Hum, entendo. Achei que existiria algum detalhe importante.
- Não, eu sou extremamente sem graça. Posso te dar filhos perfeitamente saudáveis, e todas aquelas coisas mais.
- Bem, estamos mortos, não há como uma criança nascer não saudável. - Disse e sorriu a ele.
- É por isso mesmo. - Riu. - Hum, eu toco flauta e sei dançar. Não sei se isso... Acrescenta alguma coisa.
- Bem, é cultural. Talvez eu o vejo dançar.
- Talvez um dia.
- É, talvez obriguem-no a fazer isso no casamento.
- Ah não. - Riu. - Talvez na noite de nupcias, não sou uma alegoria ou uma gueixa.
- Na noite de nupcias, hum? Se sente bem sobre isso?
- Bem... Não precisamos transar na noite de núpcias.
- Se sente bem com a hipótese do sexo?
- Não vamos transar.
- Acha que vamos ter um casamento sem sexo?
- Até eu concordar sim.
- Hum, e então?
- Não me sinto confortável.
Yasuhiro assentiu sem prolongar o assunto, talvez naquele dia tivesse pouco humor para isso. O moreno desviou o olhar ao bolo, e levou mais um pequeno pedaço a levar a boca, e dizia aquilo, porque sentia um misto de medo e desgosto, por saber que ele havia trocado a si por tantos anos por aquele garoto humano, poderia castigá-lo.
O loiro continuou o doce e como ele em silêncio, imaginava que talvez estivesse a fazer algum charme ou quem sabe simplesmente tivesse medo. Não entendia o que se passava em sua cabeça, na ideia de que havia se apaixonado pelo pequeno humano ou sido traído com ele, o que era um estranho raciocínio, uma vez que nunca tivera falado sobre o primo e casamento, ou mesmo tocado o outro rapaz. O moreno suspirou e deixou o bolo de lado, desviando o olhar ao chão.
- Perdi a vontade... Vou embora.
Dito, somente se levantou e saiu, silencioso.

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