Tsubaki e Izumi #2


Tsubaki tomou posse do próprio veículo e assumiu direção ao percurso que deveria. Não tinha um horário fixo o qual deveria chegar e por isso, poderia dirigir desapressado como gostava de fazer. No entanto, ao curso percorrido, não muito distante de onde morava, num pequeno congestionamento, dando vazão ao pequeno parque ambiental, tinha algum jardim, areia e mesmo aqueles brinquedos desconfortáveis feitos de ferro com a pintura um pouco descascada e que as crianças não costumavam se importar. Lá, podia ver um pequeno grupo de crianças, algumas separadas e um pouco mais distante, fios curtos e louros sob um tamanho tão insignificante, vestindo uma calça de moletom e um casaquinho de frio que imitavam roupas de marinheiro numa versão infantil de inverno, e embora sujasse suas mãos com a areia que brincava, parecia desanimado. E ainda assim, mesmo alguns dias passados, podia reconhecer aquela pequena criatura o qual havia colidido numa feira, e por sua pequenez, mais parecia uma pedra no meio do caminho. Chegou a rir enquanto mordiscava a unha sem arranca-lo, como um gesto descontraído e de 
passatempo. Ele olhava as crianças, mas não parecia ter intenção de ir até lá. Por um instante olhou o relógio marcado no aparelho de som desligado e não demorou para alarmar o veículo estacionado, seguindo até o pequenino, que pela segunda vez encontrado, estava sozinho, mas assim como as demais crianças, talvez alguém por ali fosse responsável pela segurança deles. Abaixou-se ao lado, voltando o olhar ao mesmo ponto o qual ele fitava, tentando visualizar o que ele olhava, até que ele se desse conta de que estava ao lado. 
O pequeno se mantinha ali, sentado no chão, aliás, quase jogado nele, estava triste, queria ir pra casa, queria ver o pai e estava com fome também, tudo junto. Não gostava das crianças, não gostava da mulher que cuidava de si, não gostava de quase nada, mas tinha que ficar ali, então manteve-se a passar as mãozinhas na areia, sabia que o pai precisava do emprego ou dormiriam na rua, como ele falava, e gostava da cama macia e quentinha. Hasui permaneceu ali a observar o chão, porém logo se dera conta, de que tinha alguém ali lado a si, já que a sombra cobriu todo o local.
- Ah! Que susto! Tsubaki? É você?!
O moreno riu sem conter a voz, embora o tom fosse naturalmente baixo. Fez-se forjadamente igualmente surpreso.
- Ora, quem é você, rapazinho? Nos conhecemos?

- Claro que nos conhecemos, não lembra de mim? Poxa, até meu ursinho tem seu nome...
- Hum, qual nome do seu ursinho?
O maior indagou, embora ainda se admirasse com a boa educação precoce do pequenino. 

- Tsubaki.
- Mas meu nome não é Tsubaki.
- Não...?
- Não, meu nome é Batsuki.
Hasui estreitou os olhos ao ouvi-lo e negativou.
- Usotsuki!

- É sim, Gasehawa Batsuki.
Disse o maior e tentou não rir sob o olhar estreito de seus pequenos olhos cinzentos.

- ...
O loirinho uniu as sobrancelhas e levantou-se devagarzinho, afastando-se alguns passos.

- Hey, onde vai?
O maior indagou, notando os passos recatados e preferiu revelar a brincadeira antes que alguém por lá pensasse que era um estranho.
- Sou eu, sou eu. Tsubaki.

- ... Quem é você afinal?!
- Tsubaki. Não lembra de mim, ah?
- ... Mas você disse que se chamada Batsuki.
Tsubaki tentou conter, mas não evitou o riso, teve até que massagear a ponte nasal.
- Eu só inverti o nome.

- Ah... - Hasui murmurou, abaixando a cabeça e caminhou até ele. - Então você é o Tsubaki mesmo?
- Não lembra do meu rosto? Eu lembro de você e do seu urso gordinho.
- Sim, foi você que me deu! Então você é meu papai mesmo?
- Eu? - Tsubaki indagou, um pouco surpreso pela análise. - Seu papai é outro papai. Eu não tenho filhos.
- Mas vai ser meu papai, não vai?
- Podemos ser amigos.
- Ah... Mas minha mamãe disse que você era lindo, achei que ia ser meu papai.
- Ah, sua mamãe disse, é? - Tsubaki sorriu, imaginando em que momento da vida um adulto diria coisas como aquela a uma criança. - Você também é lindo, mas não vira papai de ninguém por isso.
Hasui sorriu, meio de canto.
- Eu sou?

- Claro que é.
- Obrigado. - Sorriu.
- De nada. - Tsubaki disse, soando cortês como ele podia soar. - Onde está sua mamãe?
- Está trabalhando.
- E você não tem babá?
- Sim, eu estou com a moça, ela é da creche onde meu papai trabalha.
- Hum, sua mamãe dá aula na creche?
- Iie, mamãe trabalha numa fábrica. Mas lá tem creche... Ele disse que é onde os filhos das pessoas ficam.
- Hum, entendi. E que horas vocês vão pra casa?
- Só meia noite hoje...
- Meia... Noite? Mas a moça fica com você até lá?
- Não, sete horas tem outra moça.
- Hum, como você entende bem esses horários, ah? Você é bem espertinho.
- É que a mamãe me explicou... Disse que eu não posso ficar sozinho em casa.
- Vocês moram perto daqui?
- Hai, na frente da feirinha, lembra?
- Ah, verdade. Deve ser chato ficar aqui, hum?
- Hai... Eu estou com fome...
- Eles não dão seu lanchinho?
- Iie... A gente almoça, come o lanchinho da tarde e janta, mas meu lanchinho da tarde já foi...
- E está com fome de novo?
Tsubaki sorriu ao perguntar, embora não esperasse realmente uma resposta. 

- Hai... Comer é a melhor coisa do mundo ué.
- Ah é? Eu não posso levar você pra passear, a tia vai achar que estou roubando você. Mas posso ir comprar um lanchinho pra você.
- Verdade?! - Hasui sorriu.
- Sim, mas se alguém perguntar diga que sou amigo do seu papai, hm? O que você quer comer?
- Ta bom. Sanduíche.
- Sanduíche de que?
- De... De atum.
- De atum? Não gosta de queijo?
- Gosto! Pode "cê"!
- Queijinho cremoso e derretido, hum? Eu já volto. Fique perto da babá.
Tsubaki disse e deu-lhe uma beliscadinha indolor na bochecha fofa e macia, sentindo-a fria. Por fim se levantou e tomou posse do veículo até então deixado estacionado noutro lado da rua. Dirigiu-se a loja mais próxima onde pediu pelo lanche do pequenino, pensando sobre o serviço que tinha de fazer, consequentemente o que dissera o garoto sobre seu pai, seu serviço de fábrica o que sabia não ser algo fácil, pelo que sabia, trabalhavam em torno de 12 horas ou mais com horário extra. Tentou não se demorar, até comprou um chocolate quente para ele e buscou-o visualmente quando de volta.
- Hasui? - Chamou, buscando o pequenino onde o havia encontrado antes.

O menorzinho assentiu e levantou-se, permanecendo ali perto e claro, ficava atento a cada pessoa que passava, esperando ser ele a voltar e falar consigo, por um minuto até imaginou que ele não fosse mais voltar e sentiu o nó na garganta, porém logo ouvira sua voz e correu em direção a ele, abraçando-o na perna.
Tsubaki observou o pequenino, que parecia ter o rosto tão vermelho, que imaginava ter passado algum tipo de situação vergonhosa, mas agarrou-se a própria perna, por sorte, tinha tampa no copo que levava.
- O que foi, peixinho?
Disse e tocou seus cabelos, afastando-se sutilmente de modo que pôde se abaixar e fitar seu rosto. Hasui e
rgueu a face a observá-lo, a expressão chorosa e uniu as sobrancelhas.
- Achei que não ia voltar mais.

- Não chore, fui buscar seu lanchinho. Não está mais com fome, hum? Eu nem demorei.
- Estou sim...
- Aqui, tem até um chocolatinho pra você, não pode chorar. - O moreno disse e entregou o copo térmico a ele. - Bebe por aqui. - Disse, indicando a pequena abertura de saída pela tampa da bebida. 
O menor assentiu a estender a mãozinha e pegar o copo e bebeu um pouquinho do chocolate pela abertura, fazendo biquinho.
- Oh, agora estou em dúvida se você é um peixinho dourado ou um passarinho com esse bico. - Tsubaki disse e não esperava que ele fosse entender no entanto pegou da embalagem o lanche pedido por ele, e ainda tinha uma boa temperatura. - Vamos, vem sentar pra comer.
Hasui desviou o olhar a ele ainda com o biquinho e encaminhou-se ao banco, sentando-se a seu lado, com um pouco de dificuldade. Ao se sentar no banco sem conforto, o moreno pegou por baixo dos braços e o colou ao lado,sentadinho enquanto ajeitava o lanche em sua embalagem, entregando em suas pequenas mãos.
- Eu vou ter que ir antes da sua mamãe chegar, sabe disso, hum?

O loiro pegou o lanchinho e mordeu logo um pedaço, desviando o olhar a ele.
- Eh? Por que?!

- Porque eu não posso ficar até meia noite.
- Ah... Tudo bem... - O menor disse e mordeu novamente o lanche.
- Eu também trabalho, como sua mamãe. Mas, falando em pai, seu papai não ajuda vocês, hum?
- Eu não tenho papai. - O menor murmurou, bebendo alguns golinhos da bebida.
- Claro que tem um papai.
Tsubaki disse, mas pôde deduzir pelo comentário que não conhecia seu pai. Hasui d
esviou o olhar a ele.
- Mamãe disse que ele foi embora antes de eu nascer. Ele disse que ele viajou, mas eu sei que ele não queria me ver...

- Ah é? Ele provavelmente não sabia que você era tão legal, hum?
- É. Não sabe o que está perdendo.
- É, ele não sabe.
Tsubaki disse e sorriu ao pequenino, acariciando seus curtos cabelos cor de champagne enquanto comia o lanche, cuidadoso, delicado, continuava a notar sua boa educação. Hasui m
ordeu mais alguns pedaços do lanchinho e logo desviou o olhar a ele, erguendo-o na mãozinha como havia feito noutro dia.
- Quer um pedacinho?

- Não, obrigado. Come tudo. Tem outra pra sua mamãe aqui, você entrega pra ele.
O moreno disse, fechando o pacote que deixou em seu colo. 
O menor desviou o olhar a ele e assentiu, olhando a embalagem enquanto mordia o lanche.
- Ta bom!

- Não vai comer tudo, hum? - Disse brincando com ele.
- Iie! Esse é da mamãe. - Falou, indicando.
Tsubaki sorriu ao pequenino e ficou com ele até que finalizasse seu lanche.
- Vou precisar ir, pequeno. - Disse embora não estivesse realmente feliz em deixar aquela criança. - Se estiver aqui amanhã eu passo pra brincar com você.

- Vou pedir pra vir! Mamãe queria ligar pra você, mas ele tem vergonha... Então você liga pra mamãe?
- Hum, amanhã eu venho e pego o telefone da sua mamãe.
O moreno disse a ele e para sua insistência. E após um breve afago em seu fios lourinhos como os de seu pai, levantou-se e se despediu.
- Até logo, Hasui. Vá se sentar junto da babá, aqui é perigoso.

- Ta bom. - O menor falou e sorriu, mordendo mais um pedaço do lanchinho. - Boa tarde, Tsu!

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