Kyo e Shinya #27


Shinya havia passado a tarde por ali, assistindo televisão enquanto o outro não estava, e somente teve sinais dele a noite quando ele havia voltado para dormir. Kyo adentrou o quarto, retirando as roupas a deixar de lado e suspirou, pesaroso.

- Ah, não tem nada melhor do que a minha casa.
- Kyo... Demorou hoje. 
- Estive ocupado, entrevistas, compras, não aguento mais. - Disse a se jogar na cama.
- Tudo bem. - Shinya sorriu. - Eu adorei o presente, obrigado. 
- Nada. 
Como sempre fora de feitio, Kyo estava sendo seco demais com o mais alto, mas era este o jeito próprio e imaginava que ele já sabia disso e até já teria se acostumado. Assim que este se deitou, abraçou-o pela cintura, deixando-o entre os braços.
Shinya sorriu assim que sentiu os braços do maior envolvendo-o, o baterista repousou com cuidado a cabeça sobre o tórax do mais velho e a mão foi até o abdômen dele como sempre fazia, fazendo uma leve caricia no local, fechou os olhos e suspirou.
As pálpebras já cerradas do menor, uma das mãos ainda em torno ao corpo alheio, afagava-lhe os cabelos medianos, mas aos poucos a carícia passara a ser vagarosa até que não mais feita. O baterista estava feliz em estar ali com ele, o silêncio era do agrado dele, podia ouvir o coração do loiro mais baixo batendo, fechou os olhos mas continuou com as caricias no abdômen dele, não queria adormecer, queria ficar acordado ouvindo aquele doce som da respiração do outro.

Após algumas horas em leito, Kyo despertou devido um mal-estar após tantas horas na cama, afinal, não estava acostumado dormir mais que três horas apenas. Aos poucos passou a descerrar as pálpebras, logo passando a fitar a face alheia.
Shinya ficou junto dele na noite anterior por uma hora ainda acordado, mas acabou adormecendo, então dormira tranquilo ainda repousando sobre o peito do maior, acordou conforme o movimento na cama e o observou, esfregou os olhos e sorriu.
- Boa noite.
- Hum... Hai.
Kyo empurrou-o com delicadeza, desvencilhando-se da proximidade, sentou-se em seguida e esfregou as vistas pouco embaçadas por um tempo. Um das mãos, fora até os cabelos dourados, jogando-os para trás, aqueles fios da franja que caíam em frente a face devido o novo corte. Suspirou e levantou-se. "Maldita dor no corpo" pensou.
- Levante-se, vou tomar banho, vamos dar uma volta.
Shinya observou o mais velho com um sorriso no rosto, apenas fitava cada movimento dele, e o achava tão bonito, mas não podia dizer nada a ele. Sentou-se na cama.
- Tomar banho, posso ir com você?
- Hum, vamos.
O menor adentrou o banheiro, ali mesmo dentro do quarto, passou a despir o resto da pouca roupa que ainda usava, sendo camiseta e boxer, deixou-as no local onde a empregada pegaria depois e fora até o chuveiro, este que ligou e adentrou logo, deixando a água fria cair sobre si, mesmo com a baixa temperatura do tempo.
Shinya entrou no banheiro com ele e retirou as roupas que usava também, caminhando até ele em seguida e o abraçou, assim que sentiu a temperatura da água, estremeceu e o observou.
- Kyo... Está frio... Vai ficar doente.
- Eu vou? - O menor riu. - Nós vamos.
Como sempre, ainda preguiçoso, ainda mais com o mal-estar no corpo, manteve o abraço, apoiando o queixo no ombro alheio, os olhos cerrados apenas sentia a água cair sobre o corpo.
- É, se eu ficar doente você terá de cuidar de mim...
Ao ouvir o riso dele, Shinya sentiu-se feliz por fazê-lo rir, as mãos estavam sobre as costas do menor, fazendo uma leve carícia, sentindo o corpo dele tão próximo do próprio como tanto gostava, beijou o pescoço dele algumas vezes e sorriu.
- Ah claro, vou te dar umas porradas pra você se curar rapidinho, ou posso te fazer transpirar... Dizem que isso é bom.
Os lábios do menor curvaram-se minimamente num risinho mudo. A face já estava próxima do pescoço alheio, apenas abriu a boca e deu-lhe uma mordida, puxando levemente a pele, soltando-a em seguida.
- Ah... É? - O maior arrepiou-se com a mordida e mordeu o lábio inferior. - Acho que eu estou ficando doente... - Murmurou e riu baixo.
- Ah sim, vai ficar quando eu te der um bom motivo pra dizer que está doente.
As mãos do menor, anteriormente soltas ao lado do corpo, agora percorriam a cintura alheia até as costas, e omoplatas, pressionando os dedos contra estas, tornando a deslizar até o quadril, proporcionando sutis carícias.
- Hum... - Shinya riu novamente e mordeu o ombro dele algumas vezes mas sem muita força, distribuindo alguns beijos por ali. - Ao invés de me deixar doente porque não tenta me esquentar, hum? Assim eu não fico doente...
Murmurou próximo ao ouvido dele, mordendo levemente a cartilagem da orelha do mais baixo.
- Ah é? - Kyo virou minimamente, modificando a temperatura da água. - Pronto, Terachi.
- Hum, não foi isso que eu quis dizer...
Uma das mãos do maior foi até o rosto dele, acariciando-o e logo selou os lábios do outro, mordendo várias vezes o lábio inferior, num pedido para que retribuísse o beijo que viria a seguir.
Kyo retribuiu tal beijo, numa troca de salivas calma. Com a língua massageando a alheia, em movimentos insinuantes percorrendo todos os mínimos cantos da cavidade, vez ou outra sugando o lábio do baterista, mesmo em meio ao beijo. Certa parte do corpo já correspondera, mas apenas encerrou o beijo com um simples toque de lábios.
O maior retribuiu o beijo, seguindo aquele ritmo calmo para saborear os lábios do outro mas assim que o beijo foi cessado, encostou-se na parede e o puxou para perto, voltando a abraçá-lo com cuidado onde a água pudesse molhar o corpo do loiro mais baixo.
- O que foi?
- Hum? - O menor indagou por não ter entendido tal pergunta. Afastou-se de Shinya, pegou o sabonete líquido e passou a banhar o corpo. - Vai querer sair ainda hoje?
O maior resmungou algo e cruzou os braços.
- Ah...
- Decida Shinya!
Shinya assustou-se com o tom de voz num leve sobressalto.
- M-Mas onde iremos?
- Não sei, diga sim ou não... Ou prefere ficar em casa?
- Hum, não, tá bem, vamos sair.
- Então termine o banho. 
Kyo disse e em seguida se retirou do interior do box, pegou uma toalha pré-preparada sobre o lavabo e envolveu-a na cintura, seguindo até o quarto, onde rapidamente se vestiu, usando a simples jeans preta, uma camisa regata na mesma cor, os coturnos de cano médio. Os cabelos foram deixados da forma como estavam, ainda molhados e apenas ajeitou-os com a mão, jogando-os para trás aqueles poucos fios que insistiam em cair sobre os olhos, já vermelhos de tanto esfregá-los. Ao lado, sobre o criado-mudo, apenas pegou todos os apetrechos, anéis e pulseiras, colocou-os nos dedos e pulso e deitou-se esperando pelo baterista.
Shinya suspirou, afastou-se da parede e passou rapidamente o sabonete pelo corpo logo ficando em baixo d'água para que a espuma fosse retirada, desligou o chuveiro e pegou outra toalha, secando o corpo e caminhando até o quarto. Avistou algumas roupas próprias que estavam por lá e vestiu a calça e uma camisa branca, foi até o banheiro, penteando os cabelos e demorando um tempo até que tivesse arrumado o mesmo, voltou ao quarto e se sentou na cama, observando o loiro.
- Pronto.
Kyo olhou para o outro e levantou-se logo em seguida. Em passos rápidos subiu as escadas até a saída de casa, onde certamente levariam-nos a algum lugar, não gostava de dirigir. Esperou Shinya e logo adentrou o carro, este que os levaram a um barzinho, era um pouco agitado, mas haviam várias alas, possuinte também um ótimo restaurante, um local popular no centro. Queria se distrair, precisava e achou o local conveniente, Kaoru costumava ter ótimo gosto afinal. Passou pela recepção até que alcançasse o restaurante e um dos serviçais guiou o local onde sentariam-se. O baterista seguiu com ele, e segurou sua mão, dando um beijo suave no dorso.
- O que foi Shinya, está com medo por acaso?
Kyo deu-lhe um risinho no canto esquerdo dos lábios, provocativo. Continuou com uma das mãos a entrelaçar os dedos aos alheios, a outra segurava o cardápio buscando algo para degustar, não estava com muita fome.
-  Escolha algo Shin...
O maior riu e a face se corou por alguns segundos.
- Não, apenas gosto de segurar sua mão. - Disse, observou o cardápio e abriu um sorriso. - Acho que quero espaguete.
- Certo. Quero escorpião frito, mas aqui não tem... Enfim, o espaguete e... É apenas isso para ambos e vinho tinto... Doce. - Feito o pedido, o menor voltou-se ao baterista. - Já estou com sono...
O baterista fez uma pequena careta com a escolha da comida, não era fã dos escorpiões dele.
- Ah, mas... Dormiu a tarde toda praticamente.
- Fazer o que...
Uma das mãos do menor foi frente a boca que bocejou. Não demorou muito, um dos garçons colocou a garrafa de vinho sobre a mesa, junto a dois cálices e serviu-os. Degustou pouco do vinho e assentiu breve num leve manear com a cabeça, logo o rapaz de estatura mediana se retirou com o sorriso gentil no rosto. Serviu-se com uma quantidade maior de vinho, não gostava de beber, mas o vinho estava realmente agradável.
O maior não podia evitar se sorrir cada vez que via o outro sorrir daquela maneira, era quase automático, experimentou o vinho igualmente.
- Muito bom...
- Esse seu sorrisinho idiota me incomoda, assim como eu mesmo sorrindo me incomoda, tsc.
Kyo sorvia vários goles consecutivos da bebida. Não demorou muito e logo foram servidos com o pedido. Shinya levou uma das mãos até os lábios e ficou sério a partir daí, pegou o talher e provou a comida, olhando para o próprio prato enquanto comia, silencioso, era melhor assim.
Kyo comia devagar, com o olhar perdido num ponto qualquer ali dentro. Após fazer-se rapidamente satisfeito, estava com pouco apetite, sorveu mais severos goles do vinho, preenchendo novamente a taça, tornando a beber, ainda com o olhar perdido em devaneios. Assim que o mais alto terminou de comer o olhar se desviou até o loiro em frente, observando-o beber.
- Vai ficar bêbado desse jeito... Com vinho... - Riu e bebeu outro gole da bebida.
O menor deu novamente aquele sorrisinho com o canto dos lábios, desdenhoso desta vez.
- Não sou você, Terachi.
Disse, os lábios próximos ao cristal do cálice, dando um novo gole em seguida.
- Eu fico bêbado com facilidade... Mas você adora me ver bêbado que eu sei..
O maior bebeu o restante do vinho que havia na taça e apenas observou o menor beber.
- Nem ligo se fica bêbado ou não, afinal, as besteiras que diz quando bebe, posso te fazer dizer em plena sanidade.
- Ta aí algo que eu duvido... - O maior murmurou para si mesmo, enquanto brincava com a taça.
- O que disse?
- Nada.
- Tsc... Vai pedir algo mais?
- Não, não.
- Então vamos embora, e amanhã saímos mais cedo. 
Kyo deixou algum dinheiro sobre a mesa, suficiente para pagar os pedidos e ainda deixar algo para os serviçais. Levantou-se e passou a caminhar seguindo em direção a saída do local.
- Ah, mas Kyo... Acabamos de chegar praticamente.
Shinya Seguiu o outro e segurou a mão dele novamente.
- Hum, o que quer fazer? - Virou-se e o fitou.
- Hum...
O maior abraçou o menor.
- Se bem que também seria interessante que fossemos para casa... Queria ver você me fazer dizer besteiras....
Murmurou e riu, mordeu levemente o lábio inferior e uma das mãos subiu por baixo da camisa do vocalista, arranhando a pele, discretamente.
- Vai ficar na vontade , Terachi. - Kyo tornou a caminhar, desvencilhando-se dos toques e entrou no carro. - Vamos! venha.
- Mas...
Shinya abaixou a cabeça e o acompanhou até o carro, entrou e permaneceu em silêncio. Algumas vezes tentava entender aquelas atitudes do outro, desvencilhando-se tão facilmente de si, empurrando, afastando, como se não fosse de fato importante para ele, era seu melhor amigo, mas o modo como ele tratava a si era complicado.
Não demorou muito e já estavam em casa, Kyo tirou o coturno, a roupa, jogando-a longe, estava livre e cheio de preguiça mais uma vez. Agora, trajando apenas a boxer branca, debruçado de qualquer jeito sobre a cama.
- Porra, não tem lugar melhor que a minha cama.
Shinya entrou em casa e viu o menor tirar as roupas, suspirou e caminhou até o quarto junto dele.
- Não tem vergonha não? E se a empregada vê você assim?
Disse o loirinho mais alto, e na verdade, só queria brincar, visto que também retirou as roupas que havia usado para sair, deixando de lado. 
- Primeiro... A empregada tem uns cinquenta e cinco anos, segundo a mais nova só vem nos domingos, então cala a boca.
- Não me mande calar a boca. - Disse o maior, já irritado pela atitude do outro.
- Não me enche o saco Terachi. Boa noite!
- Mas que porra? Por que você vive me tratando assim, que merda eu fiz?
Disse o maior a se levantar. Kyo levantou-se, sem paciência alguma, puxou-o pela camisa e assim feito fora pulsionado jogando o corpo alheio conta a parede próxima. Pôs-se frente a ele, um dos braços inserindo um soco na parede, ao lado da face deste, tão próximo, a voz alterada, indagava sem paciência, o semblante nervoso, marcando as expressões de raiva.
-  Qual seu problema?
O loiro assustou-se com a investida e se colou ainda mais contra a parede, a expressão assustada fitando os olhos do maior e as lágrimas que molharam os olhos, mas não escorreram. Agora estava assustado com ele, não só suas atitudes, parecia mentalmente instável. Ficou em silêncio por alguns segundos, não conseguia dizer nada, não havia visto o menor tão irritado consigo antes,  tentou dizer algo e a voz saiu baixa, quase um sussurro.
- E... Eu... Kyo...
O menor abaixou a cabeça, os olhos passando a fitar o chão, mas foram cerrados logo. Mordeu o lábio inferior, ferindo-o para descontar a raiva, mas não era o suficiente. Os olhos vermelhos, marejaram de tanto ódio, ainda mais por não poder fazer nada. Andava estressado, essas briguinhas insuportáveis corrompendo qualquer sanidade paciente. Afastou minimamente, onde a mão alcançou o criado-mudo, esta onde um novo soco fora inserido e saiu de lá, empurrando ou jogando quaisquer objetos, coisas que estivessem no caminho.
O maior manteve-se parado apenas o observando e logo escorregou pela parede, sentando-se no chão no mesmo local, abraçou os joelhos e negativou para si mesmo, tentando entender o que havia se passado ali naquele momento.
Próximo a porta, Kyo encostou-se na parede e os braços estavam cruzados sobre a frente do tórax, a cabeça doía e apesar da amenidade, era apenas um modo de se tornar imune ao acontecimento, antes que enlouquecesse.
- Saia daqui Shinya, suma, não volte, morra, pra mim você morreu e pra você eu morrerei também, um amanhã onde existiria nós dois, não haverá mais.
Shinya levantou-se, cauteloso a observá-lo.
- Kyo... Por favor... Não diga isso... Você só está com problemas, precisa de ajuda.
O menor continuou como estava, as pálpebras foram fechadas e não viria a abri-los até que a presença alheia já não estivesse mais ali.
- Sai...
- Kyo... Olhe pra mim por favor... Não faça isso... Eu te amo... Sabe que o que temos é mais importante que isso, por favor, me deixe cuidar de você, veremos alguém juntos.
- Você está me deixando louco Shinya, minha vida tem se tornado um inferno com você.
Sai, sai daqui... Some, eu não vou aguentar. E pare de falar dessas merdas.
- Não me peça pra ir embora... Por favor, não consigo ficar sem você.
- Então morra sem mim, por que farei o mesmo.
- Kyo, por favor! - O maior aproximou-se, observando-o, agora próximo. - Grite comigo se for fazer você se sentir melhor, me peça tudo o que quiser mas não peça pra ir embora e ficar sem você. Me deixe te ajudar.
- Será que você não vê... - As mãos do vocalista apontavam para si próprio pousando na altura do peito sobre onde batia o próprio coração. - Você está me matando Shinya, eu não te aguento mais, meu limite, já deu... Quer me ver louco, quer me ver numa situação pior que essa Shinya? Quer? - A voz gritante saíra falhada, e nessa altura a raiva transparecia em gotas postas a cair dos olhos até a face. -  Neste momento Shinya, eu só desejo não vê-lo nunca mais, não te amar mais, não te querer, nem ao menos saber que você existiu dentro de mim.
Shinya escutou o menor, as lágrimas escorriam pelo rosto, queria socar a parede como ele havia feito, mas não o fez.
- Me perdoe Tooru... Me perdoe por ter dito algo ruim que você não gostou, ou seja lá o que foi que eu disse. Eu amo você... Eu daria tudo na minha vida pra ver você feliz, você sabe, mas... Quer que eu vá embora... Eu irei. Olhe pra mim, por favor... Só olhe pra mim... Kyo... Eu te amo, não quero ficar sem você...
- Me deixe dormir, me deixe esquecer de tudo isso agora.
Kyo tornou a ir a própria cama, onde deitou-se e cobriu-se por inteiro. A imunidade, a raiva, tais sentimentos a essa altura já se resumiam em fraqueza.

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