Kaname e Shiori #38


Shiori pegou o filho pequeno no colo e colocou-o sobre o sofá, acariciando os cabelos compridos dele e os retirou da face. Era pequeno, mas não mais como antes, já não cabia mais em um berço, aninhado como um recém-nascido, havia esticado, e os anos passaram como se fossem dias, eles sempre passam quando se é um vampiro.
- Tudo bem, meu amor, não chora.
Sorriu a ele e o beijou na boquinha pequena, puxando para cima o short que o filho usava e viu o pequeno machucado em seu joelho.
- Tá vendo? É por isso que a mamãe fala pra não correr.
Shiori pegou o curativo que sempre carregava no bolso, mesmo sem necessidade e retirou a embalagem dele, porém quando se virou para colocá-lo notou que o machucado já havia sarado.
- Mamãe... Vai por o curativo. - Sorriu a ele e colocou o mesmo no local, mesmo sem necessidade e aproximou-se, beijando-o no joelho. - Pronto.

O pequeno torceu os pequenos lábios, no inverso de um sorriso. Reprimindo o chorinho embora uma gotinha sorrateira escapasse dos olhos. Assentiu a ele, balançando a cabecinha em compreensão de cada palavra sua. Sentiu o carinho de seu beijo sobre o curativo enfeitado que talvez já nem precisasse, não sentia doer mais, mas não falou e levou os bracinhos em torno de seu pescoço, num abraço e mudo agradecimento. Shiori abraçou o filho igualmente e virou pouco a face, beijando-o no local e sorriu a ele.
- Já passou, meu amor, tudo bem. - Riu baixinho. - Cadê esse sorrisinho?
- Passou.
O pequeno murmurou ao pai, ainda próximo conforme o abraço apertado em seu pescoço. Shiori a
cariciou os pequenos cabelos do filho.
- O papai já está chegando, então o que acha de fazer um bolo bem gostoso pra ele?

- E "pra eu" também, né?
- É claro, ora.
- Então vamos!
Shiori sorriu e beijou o filho no rosto novamente.
- Do que você quer o bolo?

- Ah... - Etsuo levou o dedo minúsculo sobre o queixo, como se pensasse. - Morango!
- Só morango, é?
- Morango e... Creme.
- Creme? - O maior riu baixinho e pegou o filho pequeno no colo. - Que tal chocolate?
- Chocolate fica enjoativo...
- Hum... Então é creme. Mas tem que dar beijinho na mamãe se não ela não faz.
- Mamãe não gosta de creme?
- Gosta sim. - Sorriu e fez bico. - Meu beijo, cadê?
- Aqui? - O pequeno indicou com o dedinho sua boca.
Shiori riu e aproximou-se do filho a beijá-lo várias vezes no rostinho enquanto o menor fechou os olhinhos num reflexo, sentindo os toques.
- Vamos. - Seguiu junto dele até o balcão e colocou-o no chão. - Ainda se lembra dos ingredientes, hum?

- Hum... Ovo... Farinha... "Magarina"... Pó pra crescer o bolo... Leite...
- Então pega pra mamãe. - Riu.
- Mas eu não vou alcançar tudo.
- O que não alcançar a mamãe pega pra você.
- A farinha tá lá no céu.
O pequeno disse e apontou ao armário de cozinha, numa das portas onde estava o ingrediente.

- O céu é mais longe hein? - Shiori riu e ergueu o filho nos braços, sentindo o corpinho embora pequeno era pesado e deixou-o da altura do armário. - Olha.
Etsuo abriu a porta do armário e pegou o pote com farinha, abraçando-o para que não o deixasse cair, o outro riu baixinho e logo colocou-o no chão. O pequeno sentiu a firmeza do solo e ainda abraçando a farinha, direcionou os bracinhos para a mãe, para que pegasse o pacote.- Ai meu deus!
Disse o mais velho, fingiu deixar cair e pegou-o antes que atingisse o chão, rindo baixo e viu o pequeno se assustar, estendendo as mãozinhas para pegar, porém no riso em seguida.

- Quase matou o saquinho, poxa.
- Foi você que fez. - Etsuo resmungou. - Ia "prodir" ele.
- Ia nada.
- Agora o ovo!
- Cuidado com os ovos, pode ter pintinhos dentro.
- ... - O menor torceu os lábios. - Mas estão mortos.
- É mentira, meu amor. - Riu.
- É não. O ovo é um pintinho morto.
- Ah, não é não, meu morceguinho.
- É sim, se ele não fosse tirado da mamãe dele, tinha o corpinho dela pra esquentar ele e virar um pintinho igual ela.
Shiori uniu as sobrancelhas e assentiu.
- É... Tadinho do ovo.
- Mas ela tem mais filhotinhos, ta bom?
- Mas você não ia sentir minha falta se eu sumisse, mas tivesse irmãozinhos?
O maior uniu as sobrancelhas novamente.
- Eu não deixaria ninguém levar você, por nada nesse mundo.

- Então ela fica triste também.
- ... Acho que não dá pra fazer sem os ovos...

- Já morreram, não dá pra levar embora mais. Não fica triste, mamãe.
O menor disse e levou ambas as mãozinhas, segurando seu rosto entre elas. Shiori deu um sorrisinho.

- Ta bem, meu amor. Mamãe não está triste não. Vem, vamos fazer o bolo do papai.
- E meu também.
- Isso. - Riu e pegou os ovos na geladeira.
- Pega o pó de crescer também.

- O fermento?
- Esse.
O maior sorriu e pegou o pequeno potinho.
- Pronto.
- E eu esqueci o que falta...

- Hum... Quem sabe isso...
Shiori pegou a latinha de chantilly e mostrou a ele, erguendo-a para que ele não conseguisse pegar.
- Ah, leite! - Etsuo exclamou e tentou pegar a latinha de chantilly.

- Não senhor! Só um pouquinho.
Shiori murmurou e riu, colocando um pouquinho do doce na própria mão e levou aos lábios do filho, sujando-os, o pequeno s
entiu o toque dos lábios, e lambeu-o antes mesmo de tê-lo terminado. Riu silencioso e segurou o pulso do pai com as mãozinhas, levando seu dedo a boca e lambeu o chantilly. Causou-lhe um mordisco, o que consequentemente fez-se a sugar com maior gosto, misto do gostinho do pai junto ao doce da espuma.
- Ah...
Shiori gemeu baixinho ao sentir a mordida e fez bico ao filho pequeno, certamente se alguém visse os dois, não saberia dizer quem era a mãe ali. Puxou o dedo de volta e cruzou os braços, segurando o chantilly.
- Não te dou mais chantilly também.

Etsuo torceu os lábios num sorriso inverso.
- Mas...

- Não! Só se você me pegar.
O maior abriu um pequeno sorriso e saiu da cozinha, correndo com a latinha de chantilly.

- Mas a mamãe disse que não pode correr.
- Ah, não quer mais brincar comigo?
- Depois do bolo!
- Ta bom... - Shiori voltou para a cozinha e deixou o chantilly sobre o móvel.
- Porque o papai vai chegar logo, né?
- Hai. - Shiori sorriu e pegou a margarina na geladeira.
Etsuo escalou o banquinho próximo ao balcão onde se sentou e com os ingredientes pegos pela mãe, observou-o a colocá-los na batedeira um a um. O maior juntou os ingredientes, preparando a massa do bolo e logo ao terminar desligou o aparelho, pegando pouco da massa com um dos dedos e experimentou.
- Oishi? - O pequeno indagou-o ao vê-lo experimentar.
Shiori fez uma pequena careta e riu baixinho, levando um pouquinho a boca do filho.
- Ruim? - O menor indagou e pendeu a cabeça de lado, logo experimentando.- Não é ruim...Mas tem gosto desse pó. - Disse, indicando o fermento em pó com uma leve careta.
O maior riu e fechou o potinho de fermento.
- Vamos colocar no forno.

- Hai e comer o morango enquanto corta ele.
- Hai. - Sorriu ao filho. - Quer untar a forma?
- Não... Não gosto de manteiga, tem cheiro ruim e não sai da mão.
- Seu chatinho. - Shiori riu e pegou o potinho de manteiga. - Eu faço.
- Não sô chato. Gruda o cheiro e me deixa enjoadinho.

- Ta bem, pequenininho. - Shiori untou a forma com a margarina e logo passou pouca farinha no local, colocando a massa na forma e lavou a mão em seguida, levando a forma ao forno. - Pronto.
- Ê! - Etsuo exclamou sem altura e voltou-se para a geladeira buscando as bandejinhas de morango. - Tó mamãe.
Shiori pegou as pequenas bandejinhas e abaixou-se, beijando o filho no rostinho.
- Obrigado, morceguinho.

- Me dá um?
O maior assentiu e colocou as bandejas sobre a pia.
- Mas a mamãe tem que lavar primeiro, hum?
Lavou alguns dos morangos, separando-os num potinho e abaixou-se a levar um deles aos lábios do filho. O pequeno abriu a boquinha e aceitou o moranguinho inteiro, embora o mordesse só na ponta e segurou o restante.
- Oishi!

- Você é tão lindo... Igualzinho o seu pai. - Sorriu.
- E a mamãe também é bonito.
- Sou?
- Sim, bastante.
- Obrigado, pequenininho. - Sorriu novamente.
- Vamos cortar os morangos, mamãe?
- Mamãe vai, você não pode mexer com a faca.
- Eu sei. - Resmungou.
- Isso.
Shiori riu e cortou o primeiro morango, entregando a metade ao filho e a outra colocou no potinho. Etsuo c
omeu a metadinha que ganhou e voltou a se sentar, observando o afazer do outro. O maior cortou todos os morangos e suspirou por fim, observando o pequenininho.
- Terminamos.

O menor roubou mais alguns pedacinhos do morango do potinho.
- E agora o recheio!

- Hai! - Shiori sorriu e foi até o armário, pegando os ingredientes.
Etsuo pegou a panelinha aonde o fariam e colocou na mesa, voltando a se sentar no lugar, esperando que o pai permitisse juntas os ingredientes. O maior observou o filho a abrir o armário do lado do fogão e colocou o leite condensado sobre a mesa.
- Filho, só... Não passe tão perto do fogão, tá?

- Tá bom, mamãe. Ele é muito quente.
- Isso. Não é legal se queimar.
- Não é. O calor é ruim.
Shiori assentiu e desviou o olhar ao próprio pulso por alguns instantes, notando as marcas sutis e puxou a blusa, ligando o fogo a colocar a panela ali junto dos ingredientes.
- Cuidado você também, mamãe!
- Tudo bem, meu amor. - Sorriu a ele.
- Mas se machucar o papai arruma!
- Arruma é?
- Arruma, deixa igual de novo.

- Acho que o papai não pode arrumar queimaduras.
- Mas ao menos ele faz parar de doer.
- É, o papai faz. E logo a mamãe também, hum?
- A mamãe? Por quê?
- Mamãe vai trabalhar com o papai.
- Vai me deixar sozinho?
- Claro que não. Mamãe vai quando você for pra escolinha.
- Mas eu posso ir pra escolinha?
- Claro, meu amor. - Sorriu a ele.
- Mas como? Não posso de dia e a noite não tem.
- Tem sim. Você acha que já não fazem escolinhas pra vampiros, hum?
- Mas nós não somos escondidos?
- Somos, e a escolinha também é. Não é muito grande, geralmente é feita na casa de algum dos professores. Mas vai estudar assim até ter idade para estudar a noite numa escola normal. Você não é diferente, meu anjinho.
- Ah... - Etsuo murmurou entendido da própria forma. - Mamãe vamos terminar logo o bolo, eu quero comer com o papai.

- Ta bem. Acho que o bolo já está pronto, hum. A massa parece ótima. - Shiori sorriu e abriu o forno, usando duas luvas para retirá-lo do local e deixá-lo sobre o fogão. - Calma, não pode tocar.
- Eu sei, mamãe!
O pequeno exclamou empolgado, porém sem altura. Observou o bolo, porém sem fuça-lo.

- Está bonito, não está? - Pegou o filho no colo.
- Está, parece gostoso.
- E deve estar. - Sorriu. - Vamos deixar esfriar um pouquinho.
- Mas, e o creme?
- Já está pronto também, pequeno, esqueceu?
- Mas tá no fogo ainda. - Apontou.
Shiori desviou o olhar ao fogão e arregalou os olhos, seguindo até o fogão e suspirou, desligando.
- Que bom que não queimou.

Etsuo riu baixinho, contido. Shiori cortou o bolo após deixar um tempinho para esfriar, e sorriu ao filho.
- Cadê o recheio?

- Na minha barriguinha.
- Você comeu o recheio?
- Tudinho.
Shiori estreitou os olhos e cruzou os braços, mas etsuo riu e apontou com o dedinho ao microondas. O maior riu e pegou-o no colo.- Nem se tivesse comido eu ia ligar, bobo.
- Mentiroso, já queria brigar comigo.
- Queria nada, sabe que eu não brigo.
- Tá lá. - Sorriu.
O maior deixou-o no chão, pegando o recheio e levou ao lado do bolo, preenchendo-o com o mesmo e Etsuo escalou novamente o banquinho, observando o pai esconder a massa de bolo com o recheio preparado. Shiori pegou pouco do recheio com o dedo e sujou os lábios do filho, sorrindo a ele.*
- Quer raspar?

Etsuo desenhou os próprios lábios com a língua, delineando-o a limpá-lo e negativou.
- Iie! O bolo vai ser mais gostoso.

- Ta bom então.
Shiori sorriu e colocou a panela ao lado, colocando a parte cortada sobre a outra com cuidado e logo colocou pouco do recheio sobre o bolo também.

- E o moranguinho? Não fica lá embaixo também?
O maior uniu as sobrancelhas.
- Saco... - Riu e retirou a parte de cima novamente, espalhando os morangos pelo local. - Não sou bom cozinhando... - Fez bico.

- Claro que é, mamãe sempre faz coisa gostosa pra comer.
- É nada.
- Claro que é, tudo gostoso!
O maior sorriu ao pequeno e logo fechou o bolo novamente, colocando alguns morangos na parte de cima.
- E agora o chantilly, mamãe.
- Mamãe vai por. - Sorriu e pegou o chantilly. - Quer colocar?
- Não... Vou bagunçar e quero que fica bonito.
Shiori riu.
- Mas o que importa é que faça com amor, não que fique bonitinho.

- Mas já tem um monte de amor da mamãe então está gostoso.
- Ta bem, pequeno. - Shiori murmurou, sorriu e colocou o chantilly no bolo, decorando com alguns dos morangos e logo deixou a latinha de lado. - Pronto.
- Pronto!
O maior sorriu e guardou a latinha de chantilly.
- Quer um pedacinho ou quer esperar o papai?

- Papai.
- Ta bom. - Sorriu. - Vamos lá pra sala que ele já deve estar chegando.
- Deve estar não. Já chegou.
Disse Kaname, observando-os da porta, no limiar da cozinha e já mesmo havia tirado o jaleco e casaco. Dobrado as mangas da camisa até os antebraços e seguiu para o cômodo, pegando o filho no colo, dando um beijo em sua testa com poucos fios de franja. E voltou-se ao companheiro, cumprimentando-o com um selo em seus lábios.
- Parece que foram cozinheiros hoje.

Shiori sorriu ao maior ao vê-lo entrar e assentiu, retribuindo o selo.
- Eu tentei fazer, mas...

- Não sei porque anda reclamando tanto do que cozinha. Não fazia isso antes, e sempre me esperava com o jantar e empolgado, uh?
- Hai...
- E eu sempre gostei deles.
- Experimenta então. - Sorriu.
- Então corte um pedaço pra mim, hum?
Shiori assentiu e pegou um pratinho no armário, cortando um pedaço do bolo ao namorado e colocou junto o garfinho.
- Pronto.

Kaname sentou-se próximo ao balcão, junto ao filho que sentou-se no próprio colo e sorriu olhando para o bolo, que talvez houvesse ajudado preparar. Pegou um pedacinho com o talher, experimentando-o, murmurou em agrado e logo serviu o filho, que comeu consigo. E no terceiro pedaço, ao moreninho do lado. Shiori sentou-se ao lado de ambos e abriu a boca a aceitar o bolo, sorrindo em seguida.
- Hum... Oishi.

- Oishi... Ficou docinho e azedinho! - Disse o pequeno.
- É, ficou. - Kaname concordou com o filho.
- Como foi o trabalho hoje? - Disse Shiori com um sorriso.
- Foi tranquilo. Embora muitas crianças a serem encaminhadas ao pediatra. Parece que está em época de gripe.
- O bom é que você não pega mais. - Riu baixinho.
- Hum. - Kaname afirmou a mais um pedaço do bolo. - Aparentemente tem alcançado somente as crianças e os idosos. São os de imunidade mais baixa.
Pegou mais do bolo, levando um pedacinho que encheu a boca do pequeno no colo. Shiori r
iu baixinho a observar o filho.
- Cuidado, vai estourar suas bochechinhas.

Etsuo inflou ainda mais as bochechinha, comprimindo os lábios num biquinho.
- Ah, mas ainda cabe bastante nessas bochechas. - Disse o mais alto e serviu igualmente o companheiro que sorriu a aceitar o bolo.
- Ficou muito gostoso o bolo de vocês. - O maior falou e afagou o cabelinho do pequeno.

- Que bom. - Shiori sorriu novamente.
- Papai quer mais. Vocês não querem?
Shiori assentiu, observando-o em silêncio por alguns instantes e levantou-se, pegando o pequeno pratinho e colocou nele mais um pedaço de bolo, entregando ao outro.
- Toma, papai.

- O que houve, mamãe?
Etsuo indagou ante o olhar que anteriormente recebera e aceitou o bolo, que serviu inicialmente a boquinha do filho no colo.

- Estou feliz.
- Por quê?
- Vocês me fazem feliz.
- Está pensativo sobre algo bom?
- Estou.
- Conte pra nós. - Disse o maior a comer do bolo.
- É que... Nunca pensei que um dia ia ser feliz assim... Vocês me fazem a pessoa mais feliz do mundo.
- A gente também, mamãe!
- Verdade?
- É claro que sim.
Shiori sorriu e assentiu, deslizando uma das mãos pelos cabelinhos do filho, e do outro logo em seguida.

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